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HISTÓRIAS

E OUTRAS TEXTUALIDADES

Contações

O Prendedor de Margaridas

Adamásio, em primeiro lugar, era um apaixonado, embora não o representasse com seus olhos nem seus modos, sempre quase ensurdecidos para os que o vissem e observassem-lhe a postura. Parecia delicado demais; quase feminino no trato, não no gesto. Também parecia de uma candura extrema, dedicado àlguma educação que recebera rígida, quase uma dama: Tocava piano, lia muito — estudava, quem sabe... Prendara-se até mesmo para o cozer e o coser. Era, ainda mais, ensandecidamente concentrado...

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Minha Doce Lídia

Ai, ai, a vez primeira em que eu ouvi seu nome... ou em que eu me apaixonei deveras! Sim, contanto não para a razão e a realidade, tão corriqueira entre os homens do mundo... Eu me apaixonei deveras, verdadeiramente: não para o calor insano dessa massa juvenil, (ah o que se diz amor é sempre um qualquer apreço corporal!) eu não. Eu me apaixonei por Lídia. Como aos alaúdes e às cantigas, e às antigas serenatas, eu me apaixonei por ela. Eu me apaixonei por Lídia. Ou melhor, “Maria”. “Maria Lídia”, que esse é seu nome, verdade...

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O Construtor de Muros

Há muito e pouco, um homem quis construir um muro, pois viu que tudo ia mal, e desejava que tudo ia bem, mas tudo só ia bem se bem tudo ia com ele, pois ?se mal tudo ia com ele, como tudo ia bem então? Assim foi que desejou um muro, pois a casa era aberta pra rua, com passagem pra calçada e abertura para os outros. E assim foi também que começou a comprar tijolos, e ainda mais, argamassa, cimento, pedra e cal, e areia, e vários outros aparatos necessários...

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Ato de Consciência

O copo de uísque, sem gelo, balançava-se inquieto curvando sobre a mesa, qual a taça de vinho em que se deitasse em dança a acidez. A manhã viera nascida tenra, delicada, parecia um sentimento nostálgico e antigo abrasar a esperança de o mundo refazer-se, naquele dia. Sim. Uma saudade. Parecia, naquela manhã, ainda semiescura, perante a claridade mórbida da lanchonete rodoviária, que o mundo retrocedera a algum ponto inexistente, onde tudo era paz e qualquer coisa por dentro, como o afeto e a tenuidade. E, embora fosse assim só um delírio aquilo tudo, tinha um quê de eterno o dia que viria a se passar daí...

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de todo inverno procede um calor mais saudável, uma flor de resplandecência invejável.

O Abominável Homem que Errava

Era uma vez, um homem que sempre errava. Ele queria acertar de todas as formas, mas errava, errava sempre. Era, certamente, o homem que mais cometia erros em todo o mundo. Ele pensava uma coisa, e no fim era outra. Fazia um bem, e era um mal. Ao sair de casa, não havia uma vez que não tropeçasse, resvalasse, alguma coisa caísse ou o estressasse. Ou um troço quebrasse...

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A revolução dos xampus 2x1 
(Ou história di capitalismo)
Aviso aos Motoristas

O problema é que nunca gostei de maus motoristas. Ou melhor, guardo-lhes ódio. Para mim, são execráveis, tamanha minha aflição em saber que existam: motoristas que não conhecem as regras, ignorantes, ou que as não respeitam, ambos criminosos. Por isso, resolvi agir em favor do trânsito, de um trânsito melhor, mais seguro, contribuindo para a sociedade.

 

Lembro-me de que tudo começou com meu pai...

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Carta do futuro

Recebi por e-mail esta carta, só que a não consegui responder. Estranha e questionável que possa parecer, publico-a com medo de deixar perder no tempo a possibilidade de imaginarmos agora o futuro. Não alterei qualquer palavra nela contida. Está aí da forma como a mim chegou...

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